Reflexões sobre o texto: “Ações Coletivas e Conhecimento: Outras
Pedagogias?” de Miguel Arroyo
A segregação cultural
impulsionou os movimentos populares, reestruturando grupos que estabeleceram
novas formas de pensar se apropriando da cultura acumulada historicamente
reorganizando de forma crítica e emancipadora a interiorização do saber, e para
além disso estabelecendo um sistema que garanta seu direito à educação e ao
conhecimento.
Esta luta se difunde por todas
as memórias da sociedade como indígenas, comunidades do campo, militantes,
quilombolas, onde em sua cultura seja valorizada sua memória e histórias
presenciadas na organização do currículo
e que possam contar com profissionais engajados com sua causa.
As disputas de poder, através dos
movimentos sociais, se refletem ao longo da história na construção do saber. O padrão
social está associado à apropriação da cultura, classificando a sociedade em
segregados do conhecimento e aquele que detém o saber.
O sentido da significatividade
das ações coletivas, das lutas, e reivindicações estimulam a contribuição do
sujeito social e das reflexões pedagógicas.
A organização das memórias
desestabiliza quem acha que detém o “ poder-
saber” mostrando que tem alma e pensamento, não podendo mais serem ocultados e
interiorizados desenvolvendo ações coletivas na sociedade onde estão inseridos
contestando a pedagogia que não os inclui, mostrando que não existe a unicidade mas sim a diversidade com função
libertadora e educativa.
As políticas e pedagogias
precisam destruir pontes por onde só trafeguem
quem se encaixa nas teorias socioeducativas previamente estabelecidas. É
preciso que as construções das “pontes” sejam feitas por todos, não só por quem
detém o poder, mas também por aqueles que tem outros projetos de sociedade, de
relação de poder e de autopensar-se, que apesar de serem considerados excluídos
não lutam pela inclusão mas sim pela justiça social e pedagógica.
A escola foi intitulada como
aquela que vai nivelar os desiguais para justificar as políticas progressistas,
porém o que é a base da luta é uma
construção de equilibração das diferenças que sejam reais e não impostas para dar voz
e vez aos “outros” que não existem diante da sociedade. Acima de tudo
estão os direitos humanos que são
considerados inexistentes mas que estão presentes sim na cena política,
econômica, cultural e pedagógica. Não se pode ignorar as memórias pois elas
estão aqui e precisam ter seu espaço, por isso precisa se estabelecer um
diálogo onde as experiências se misturem, onde o “outro” e o “nós” possam
construir um caminho onde todos são sujeitos. É preciso rever pedagogias que
segregam, com mecanismos que destacam a superioridade do “nós” em detrimento do “outro”, por pedagogias
humanizadoras, que formem pensamentos do ponto zero para uma pedagogia que valorize
os movimentos sociais , que construa uma aprendizagem ética e solidária.
Os campos do conhecimento
precisam aproximar os saberes das consciências populares, tornando as culturas
mais visíveis e pensamento dos “outros”
mais real, com ações de sistematização dos conhecimentos produzidos ao longo da
história, reconhecendo que estes conhecimentos são produções alternativas de
leitura do mundo e trazer à luz, valorizando este conhecimento.
Arroyo nos leva a questionar as
pedagogias estabelecidas na sociedade, para que possamos valorizar a pedagogia
construída pelos “outros”, os “ fora da
lei”, que são segregados culturais e políticos, mas que mesmo assim, tem suas
pedagogias construídas na ações coletivas de lutas e resistência social e que
vão de encontro a esta pedagogia que empobrece a identidade do coletivo.
A luta pelo direito à terra, à
educação, à coletividade se reflete na pedagogia formadora que se fortalece à
medida que estes grupos vão se
enraizando na sociedade, nas escolas, universidades, firmando seus territórios,
sua identidade que muitas vezes, ao longo da história, foi ignorada.
Uma outra forma de segregação é
usada como arma de inferiorização que se baseia na raça, que se estabelece para
negros, índios, porém mesmo com todo um sistema com processos brutais de
negação novas pedagogias foram construídas quebrando barreiras, valorizando a
cultura e a identidade de uma raça, ocupando território e mostrando que se
forem ignorados, a dinâmica social será comprometida.
Assim, conforme Arroyo, reflete
a busca pela superação e a interlocução é o caminho para a superação dos
processos de segregação, e um caminho para o respeito à diversidade e unidade
da pedagogia.
Reflexos das Lutas Sociais - "Quadro Operários" - Tarsila do Amaral
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