segunda-feira, 22 de junho de 2015


Reflexões sobre o texto:   “Ações Coletivas e Conhecimento: Outras Pedagogias?”    de Miguel  Arroyo

A segregação cultural impulsionou os movimentos populares, reestruturando grupos que estabeleceram novas formas de pensar se apropriando da cultura acumulada historicamente reorganizando de forma crítica e emancipadora a interiorização do saber, e para além disso estabelecendo um sistema que garanta seu direito à educação e ao conhecimento.
Esta luta se difunde por todas as memórias da sociedade como indígenas, comunidades do campo, militantes, quilombolas, onde em sua cultura seja valorizada sua memória e histórias presenciadas  na organização do currículo e que possam contar com profissionais engajados com sua causa.
As disputas de poder, através dos movimentos sociais, se refletem ao longo da história na construção do saber. O padrão social está associado à apropriação da cultura, classificando a sociedade em segregados do conhecimento e aquele que detém o saber.
O sentido da significatividade das ações coletivas, das lutas, e reivindicações estimulam a contribuição do sujeito social e das reflexões pedagógicas.
A organização das memórias desestabiliza  quem acha que detém o “ poder- saber” mostrando que tem alma e pensamento, não podendo mais serem ocultados e interiorizados desenvolvendo ações coletivas na sociedade onde estão inseridos contestando a pedagogia que não os inclui, mostrando que não existe   a unicidade mas sim a diversidade com função libertadora e educativa.
As políticas e pedagogias precisam destruir pontes por onde só trafeguem  quem se encaixa nas teorias socioeducativas previamente estabelecidas. É preciso que as construções das “pontes” sejam feitas por todos, não só por quem detém o poder, mas também por aqueles que tem outros projetos de sociedade, de relação de poder e de autopensar-se, que apesar de serem considerados excluídos não lutam pela inclusão mas sim pela justiça social e pedagógica.
A escola foi intitulada como aquela que vai nivelar os desiguais para justificar as políticas progressistas, porém o que é a base da  luta é uma construção de equilibração das diferenças que sejam reais e  não impostas  para dar voz  e vez aos “outros” que não existem diante da sociedade. Acima de tudo estão  os direitos humanos que são considerados inexistentes mas que estão presentes sim na cena política, econômica, cultural e pedagógica. Não se pode ignorar as memórias pois elas estão aqui e precisam ter seu espaço, por isso precisa se estabelecer um diálogo onde as experiências se misturem, onde o “outro” e o “nós” possam construir um caminho onde todos são sujeitos. É preciso rever pedagogias que segregam, com mecanismos que destacam a superioridade do “nós”  em detrimento do “outro”, por pedagogias humanizadoras, que formem pensamentos do ponto zero para uma pedagogia que valorize os movimentos sociais , que construa uma aprendizagem ética e solidária.
Os campos do conhecimento precisam aproximar os saberes das consciências populares, tornando as culturas mais visíveis  e pensamento dos “outros” mais real, com ações de sistematização dos conhecimentos produzidos ao longo da história, reconhecendo que estes conhecimentos são produções alternativas de leitura do mundo e  trazer  à luz, valorizando este conhecimento.
Arroyo nos leva a questionar as pedagogias estabelecidas na sociedade, para que possamos valorizar a pedagogia construída pelos  “outros”, os “ fora da lei”, que são segregados culturais e políticos, mas que mesmo assim, tem suas pedagogias construídas na ações coletivas de lutas e resistência social e que vão de encontro a esta pedagogia que empobrece a identidade do coletivo.
A luta pelo direito à terra, à educação, à coletividade se reflete na pedagogia formadora que se fortalece à medida que  estes grupos vão se enraizando na sociedade, nas escolas, universidades, firmando seus territórios, sua identidade que muitas vezes, ao longo da história, foi ignorada.
Uma outra forma de segregação é usada como arma de inferiorização que se baseia na raça, que se estabelece para negros, índios, porém mesmo com todo um sistema com processos brutais de negação novas pedagogias foram construídas quebrando barreiras, valorizando a cultura e a identidade de uma raça, ocupando território e mostrando que se forem ignorados, a dinâmica social será comprometida.
Assim, conforme Arroyo, reflete a busca pela superação e a interlocução é o caminho para a superação dos processos de segregação, e um caminho para o respeito à diversidade e unidade da pedagogia.




Reflexos das Lutas Sociais - "Quadro Operários" - Tarsila do Amaral